“A retoma das economias avançadas desde o início do ano é muito mais lenta que o esperado”, admitiu Olivier Blanchard, conselheiro económico do FMI.
Risco de recessão é superior ao previsto inicialmente. "A retoma das economias avançadas desde o início do ano é muito mais lenta que o esperado, um desenvolvimento que falhámos claramente em identificar" - a frase é de Olivier Blanchard, conselheiro económico do FMI, e dá o mote à análise do World Economic Outlook, divulgado ontem.
Afinal, o cenário é mais negro que o antecipado. "Os riscos negativos são muito reais", alerta o relatório do FMI, que reviu o crescimento mundial em baixa para 4% tanto este ano, como em 2012. Face às estimativas divulgadas em Junho, a projecção para este ano foi cortada em 0,3 pontos percentuais e para 2012 foi reduzida em 0,5 pontos. Para a zona euro as expectativas também são piores: o conjunto dos países da moeda única deverá crescer apenas 1,6% este ano, recuando para 1,1% em 2012.
Na análise que faz o arranque do relatório, Blanchard explica que, inicialmente, o abrandamento esperado para este ano "não justificou grande preocupação". Já era esperado, devido ao fim do ciclo de crescimento provocado pela renovação dos inventários e devido à consolidação orçamental. Mas "agora que os números chegam, é claro que muito mais se estava a passar", admite.
Houve dois tipos de desequilíbrios de que se revelaram mais profundos e que não foram corrigidos. Desde logo, a necessidade de consolidação das contas públicas, com a respectiva travagem da despesa dos Estados, deveria ter sido acompanhada por um aumento do consumo privado, o que não aconteceu. "O aperto das concessões de crédito por parte da banca, a herança da bolha imobiliária e o excessivo endividamento de muitas famílias revelaram-se travões ao crescimento mais fortes que o antecipado", explica o conselheiro do FMI.
Mas há mais: também os desequilíbrios a nível internacional continuam por resolver. A baixa procura doméstica das economias avançadas não está a ser substituída por mais consumo por parte dos emergentes, o que inviabiliza o único motor de crescimento disponível para os Estados fortemente afectados pela crise - as exportações.